Retomada atende demanda de Lula e busca reduzir dependência de importações do insumo estratégico para o agro
IMAGEM: REPRODUÇÃO
A Petrobras se prepara para reiniciar a produção de fertilizantes em fábricas do Nordeste até janeiro, segundo o diretor-executivo de Processos Industriais e Produtos da estatal, William França. As unidades haviam sido paralisadas em anos anteriores, o que aumentou a dependência do Brasil de importações de nitrogênio, fósforo e potássio. A retomada faz parte de uma estratégia de reindustrialização e fortalecimento da soberania produtiva no agronegócio.
França explicou que equipes técnicas trabalham na reativação de plantas, revisão de equipamentos e recomposição de contratos de fornecimento de gás e matérias-primas. O cronograma é apertado, mas a meta é ter ao menos uma linha em operação ainda no início do ano, com expansão gradual da capacidade ao longo de 2026. A reabertura exige investimentos relevantes em segurança e modernização.
A decisão de voltar a investir em fertilizantes atende a demanda direta do presidente Lula, que vem insistindo na necessidade de reduzir a vulnerabilidade externa do agronegócio brasileiro. Em crises recentes, flutuações nos preços internacionais e gargalos logísticos expuseram o risco de depender de poucos fornecedores estrangeiros, inclusive em regiões politicamente instáveis. A ideia é aproveitar a estrutura existente para recompor parte da produção nacional.
Especialistas em agronegócio e energia consideram a medida estratégica, mas lembram que ela não elimina, no curto prazo, a dependência externa. O Brasil consome muito mais fertilizantes do que consegue produzir, de modo que a retomada da Petrobras deve ser vista como componente de uma política mais ampla, que inclua estímulo a outras empresas e pesquisa em tecnologias alternativas. Ainda assim, o impacto simbólico é grande.
Para a Petrobras, a volta aos fertilizantes representa também diversificação de portfólio, conectando a empresa à agenda da segurança alimentar e da transição energética. Produzir insumos para o agro em território nacional pode gerar receitas estáveis e sinergias com cadeias de gás natural e hidrogênio. A direção da estatal procura mostrar que o movimento é compatível com metas de sustentabilidade e descarbonização.
Críticos de orientações mais liberais argumentam que a Petrobras já havia se desfeito desse segmento justamente por considerá-lo pouco rentável e distante do core business de óleo e gás. Temem que a reentrada no setor traga riscos financeiros e possíveis interferências políticas nas decisões da companhia. A gestão atual afirma que decisões passam por critérios técnicos e análise de viabilidade econômica.
Produtores rurais, sobretudo do Nordeste, veem com bons olhos a possibilidade de ter fornecimento mais próximo e previsível, o que pode reduzir custos logísticos e volatilidade de preços. Entidades do setor, porém, cobram clareza sobre a escala da operação e os impactos efetivos na formação de preços ao produtor. Lembram que o benefício só será sentido se a produção ganhar competitividade frente ao produto importado.
A retomada da produção de fertilizantes pela Petrobras será acompanhada de perto por mercados e observadores da política industrial brasileira. O sucesso ou fracasso da iniciativa servirá como teste para a tese de que estatais podem, sob novas diretrizes, voltar a ter papel ativo em cadeias estratégicas sem repetir erros do passado.
Fontes: Reuters, Money Times, Petrobras, Ministério de Minas e Energia
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