Ex-primeira-dama é apontada por aliados como foco de divisão no PL ao montar núcleo próprio de influência feminina
Michelle Bolsonaro (Foto: Reuters/Amanda Perobelli)
Lideranças do PL e de partidos aliados intensificaram críticas à atuação de Michelle Bolsonaro, acusando a ex-primeira-dama de operar um “projeto de poder pessoal” dentro do campo bolsonarista. Segundo relatos de dirigentes, suas movimentações eleitorais teriam provocado fissuras importantes nas articulações para o Senado e para chapas proporcionais em estados estratégicos. A leitura é de que Michelle busca consolidar um núcleo próprio de influência política, parcialmente autônomo em relação aos filhos de Jair Bolsonaro.
De acordo com essas fontes, Michelle vem priorizando candidaturas femininas consideradas de lealdade absoluta a ela para compor chapas do PL Mulher, segmento que preside. Um deputado chegou a descrevê-las como “feministas de direita”, em referência a mulheres conservadoras que combinam discurso moralista com foco em agenda de costumes e forte identificação pessoal com a ex-primeira-dama. A suspeita é de que, se eleitas, essas parlamentares reforçariam um “bloco michelista” dentro do partido.
Nos bastidores, aliados de Flávio Bolsonaro avaliam que a atuação de Michelle amplia a disputa interna por comando do espólio político do ex-presidente, hoje preso e com liderança fragilizada. Parte da ala tradicional teme que a ex-primeira-dama passe a ser vista como herdeira natural do bolsonarismo, esvaziando a influência dos filhos e de figuras históricas do campo. Isso explicaria o tom mais duro de críticas divulgadas de forma anônima à imprensa.
Por outro lado, apoiadores de Michelle argumentam que ela tem alto potencial de voto, grande apelo entre eleitoras evangélicas e capacidade de renovar a imagem do campo conservador junto a segmentos femininos que rejeitam figuras masculinas agressivas. Para esse grupo, fortalecer lideranças mulheres dentro do PL é estratégia legítima para ampliar bancadas e manter o campo relevante em pleitos futuros.
Analistas políticos apontam que a disputa em torno de Michelle reflete a dificuldade do bolsonarismo em se reorganizar diante da prisão de Jair Bolsonaro e das limitações legais impostas a ele. Sem uma liderança única clara, diferentes polos tentam ocupar o espaço vago, e a ex-primeira-dama surge como uma das figuras com mais visibilidade e capacidade de mobilização.
A atuação de Michelle na presidência do PL Mulher inclui viagens, eventos com pautas religiosas e de costumes, além de forte presença em redes sociais, onde mantém base fiel. Seus discursos combinam defesa da família tradicional, ataques à esquerda e apelos emocionais ligados à fé, o que agrada a nichos conservadores, mas também alimenta a percepção de que ela constrói capital político próprio.
Integrantes do PL relatam preocupação com o risco de divisão em estados onde candidaturas apadrinhadas por Michelle chocam-se com nomes apoiados por caciques locais ou pelos filhos de Bolsonaro. Em alguns casos, a disputa interna já teria travado alianças e dificultado montagem de chapas competitivas, especialmente para o Senado.
Para observadores, o embate em torno do suposto “projeto de poder pessoal” de Michelle é sintoma de um campo político que ainda não resolveu sua sucessão e tenta equilibrar interesses regionais, familiares e partidários. O rumo desse conflito interno ajudará a definir se o bolsonarismo se reorganizará em torno de uma nova liderança, se fragmentará em blocos rivais ou se buscará algum tipo de acomodação entre o “michelista” e os demais núcleos de poder.
Fontes: Brasil 247, Revista Fórumrevistaforum
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