Silas Malafaia, o pastor que adora gritar contra o Judiciário, perdeu o fôlego quando a Polícia Federal bateu à sua porta — ou melhor, no aeroporto. O profeta da indignação virou apenas mais um passageiro constrangido, vendo seus passaportes irem para o saco plástico da PF
Por: Fátima Miranda
Brasília – Acostumado a transformar púlpitos em palanques e sermões em metralhadoras verbais, o pastor Silas Malafaia agora se vê no papel que mais despreza: o de investigado. O líder evangélico, famoso por destilar ofensas contra ministros do Supremo e atacar a Justiça como se fosse inimiga da fé, foi surpreendido pela Polícia Federal no aeroporto, onde teve seus passaportes apreendidos. O “homem de Deus” que nunca economizou palavras contra autoridades acabou reduzido a gestos contidos diante dos agentes da lei.
Malafaia, que sempre se apresenta como um cruzado em defesa da moral, parece ter perdido o fervor na hora em que a Justiça bateu à porta. A altivez das lives raivosas não se repetiu no saguão do aeroporto. Nada de frases de efeito, nada de profecias contra “a ditadura da toga”. Apenas a cena de um cidadão comum, acuado pelo Estado de Direito que tanto despreza em seus discursos.
Sua postura revela a velha contradição: enquanto nos palcos e nas redes sociais vocifera contra o Judiciário, acusando-o de perseguição política e “ativismo ideológico”, na prática não passou de mais um investigado obrigado a entregar documentos e acatar ordens. A retórica de ungido não resistiu à burocracia fria de um auto de apreensão.
O futuro de Malafaia dependerá agora da Justiça que ele tanto vilipendia. Se os indícios contra ele forem consistentes, não será o “fogo do Espírito” que o livrará de responder judicialmente, mas sim o devido processo legal. O Judiciário, alvo de suas agressões mais inflamadas, terá em mãos o destino daquele que tentou, por anos, se colocar acima da lei sob a capa da religião e da proximidade com o poder político.
Nos bastidores, aliados já se preocupam com o desgaste. O “general da fé” que orientava Bolsonaro em batalhas imaginárias contra inimigos comunistas agora trava sua própria guerra — e não parece ter as mesmas armas para vencer. A Justiça avança com método; ele, com gritos.
Se confirmadas as acusações, Malafaia pode ver seu império religioso e político abalado. Ao contrário do que acontece nos cultos televisionados, não haverá aplausos nem fiéis a repetir seus bordões. Apenas juízes, advogados e processos. E, dessa vez, nem a pseudo moralismo religioso nem os palanques parecem capazes de blindá-lo.
0 Comentários
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do Portal Ativo. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia os termos de uso do Portal Ativo para saber o que é impróprio ou ilegal.