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Depressivo, rapaz que sequestrou ônibus disse aos pais que iria acabar com a própria vida


Em um churrasco de família, Willian teria desabafado sobre estar se sentindo deprimido e que ouvia "vozes dentro da cabeça"; Depois desse dia, fechou-se no celular e passou a beber
 
 

FORUM - “Eu só quero entrar para a história”, disse Willian Augusto da Silva, enquanto acalmava os reféns do ônibus que sequestrou na manhã desta terça-feira (20). O jovem, de apenas 20 anos, deixou que cada passageiro usasse o celular para avisar a família que estava tudo bem, e que aquilo não era um assalto. Chegou a negociar água com a polícia para tranquilizar as pessoas que lá estavam. Apesar da barbárie e do espetáculo de quem celebra a morte, por trás do “sequestrador” havia um jovem solitário, de poucos amigos, e que enfrentava problemas depressivos sem acompanhamento médico.

Uma das passageiras, a recepcionista Rafaela Gama, disse que uma das primeiras perguntas de Willian ao entrar no coletivo, por volta das 5 horas da manhã, foi se alguém conhecia o “ônibus 174”, pois desejava fazer algo parecido. Em junho de 2000, Sandro Barbosa do Nascimento fez reféns durante quase cinco horas dentro de um ônibus na linha 174, também no Rio – ele também foi assassinado. O caso rendeu um documentário, “Ônibus 174”, de 2002, e um filme ficcional, “Última Parada 174”, de 2008. O episódio ficou conhecido também pela grande cobertura midiática que recebeu, principalmente dos momentos de negociação entre a polícia e Sandro.

Assim como no episódio do 174, Willian estava atento à repercussão do sequestro, acompanhando pela televisão do coletivo o movimento que se fazia do lado de fora. No rádio, ele perguntava aos policiais “em que altura estava o engarrafamento” e pedia para que não machucassem os reféns. Levava consigo uma mochila, onde carregava o material que usaria durante o sequestro: a réplica de uma pistola, uma arma de choque, garrafas PET com gasolina, barbante, um isqueiro e um livro, “O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio”, de Charles Bukowski.

Apesar da barbárie e do espetáculo de quem celebra a morte, por trás do “sequestrador” havia um jovem com problemas depressivos e surtos psicóticos. A solidão e a mudança de comportamento de Willian, meses antes do episódio do ônibus, chamou a atenção dos familiares. Apesar de estar matriculado na escola, o jovem não frequentava as aulas e tampouco tinha amigos conhecidos pela família. Até que, durante um churrasco entre parentes, Willian teria desabafado sobre estar se sentindo deprimido e que ouvia “vozes dentro da cabeça”. Depois desse dia, fechou-se no celular e passou a beber muito.
 
Willian Augusto da Silva – Foto: Reprodução
                                     
A mãe, cuidadora de idosos, e o pai, padeiro – a quem Willian ajudava no serviço – disseram que o garoto nunca chegou a tratar a depressão. Na noite anterior à sua morte, ele mandou uma mensagem aos pais dizendo que acabaria com a própria vida, como alguém que já sabia e esperava o pior dos desdobramentos.

“Meu primo era um ótimo filho”, disse Alexandre, primo de Willian, totalmente surpreso com o ocorrido. “Minha família é estruturada. Mas infelizmente meu coração é um, o dele é outro. Minha mente é uma, a dele é outra. A minha família é de laços familiares bons. Meu primo não teve proximidade com nada ruim. Ele era bandido? Talvez só tenha se tornado um agora”, lamentou. “Pedir desculpas é o que minha família pode fazer agora”.

O comandante do Bope, tenente-coronel Maurílio Nunes, disse que a decisão de atirar foi tomada depois que Willian parou de se comunicar com os policiais. “Ele não queria praticar um assalto, isso ficou claro desde o começo. Tinha a intenção de fazer algo grande, de ferir pessoas ou cometer suicídio”, afirmou o oficial. De fato, a intenção de Willian, como ele mesmo anunciou, era de entrar para a história.









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