Movimentação milionária reforça padrão do clã: autopreservação acima do Brasil, patrimônio blindado acima da democracia
Por: Fátima Miranda
A Polícia Federal revelou, em seu novo indiciamento, que Jair Bolsonaro (PL) transferiu R$ 2 milhões para a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro exatamente um dia antes de comparecer ao depoimento sobre as investigações que miram seu filho, Eduardo Bolsonaro (PL-SP). O detalhe da data não é irrelevante: é a prova mais escancarada de que o ex-presidente já não age como quem governa um país, mas como quem tenta salvar a própria pele.
Para investigadores, o movimento tem cheiro de manobra clássica de blindagem patrimonial: esvaziar contas pessoais antes que a Justiça possa agir, deixando o dinheiro sob a guarda de Michelle. Um gesto que, em qualquer manual de poder decadente, aparece como a primeira reação de quem enxerga a derrocada iminente.
Michelle, que por anos foi apresentada como “a face suave” de um governo belicoso, volta ao noticiário não como símbolo de solidariedade, mas como depositária de fortunas suspeitas. A imagem da “dama evangélica” contrasta agora com a função prática de guardiã do caixa familiar, uma espécie de cofre humano que recebe depósitos às pressas quando o cerco da lei se aperta.
Não é um episódio isolado. A transferência milionária soma-se aos áudios e mensagens extraídos dos celulares de Bolsonaro, onde já se ouvem bastidores de conspirações e articulações de poder tratadas com deboche e soberba. Juntos, os elementos desenham o retrato de um clã que jamais tratou o Brasil como pátria: apenas como palco, balcão de negócios e fortaleza de autopreservação.
Se no discurso público Bolsonaro se diz vítima de perseguição, os números em sua conta bancária contam outra história: quem deposita R$ 2 milhões na véspera de um depoimento não age como inocente, mas como réu em fuga preventiva.
No fundo, a transferência para Michelle é mais do que um ato contábil. É um ato político. Um símbolo daquilo que sempre moveu Bolsonaro e seus filhos: não a defesa do povo, não a soberania nacional, mas o instinto de sobrevivência de uma família que trata a democracia como incômodo e a lei como inimiga.
E o Brasil, mais uma vez, é reduzido a figurante nesse espetáculo de autoproteção milionária.
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