Avaliação positiva em ‘segurança’ e ‘combate à corrupção’ deve-se exclusivamente à presença do ex-juiz no governo. Até quando?

CARTACAPITAL - O ministro Sérgio Moro anda em baixa no Planalto central, por vários motivos. O chefe Jair Bolsonaro não perde uma chance de desgastá-lo, o Congresso ignora seu pacote “anticrime”, o Supremo Tribunal Federal revê suas decisões anteriores ibano e as revelações de The Intercept continuam a erodir a credibilidade da Operação Lava Jato. Ainda assim, o ex-juiz é a última coluna de apoio popular que impede o desmoronamento completo da imagem do governo.
Em todas as pesquisas recentes, da CNT/MDA ao Datafolha, a avaliação do desempenho de Bolsonaro despenca na maioria dos itens analisados. São especialmente ruins nos quesitos meio ambiente e educação. Em duas áreas, o apoio permanece, no entanto, superior à crítica: segurança e combate à corrupção.
Para Marcos Coimbra, diretor do Instituto Vox Populi, essa percepção positiva se deve à presença de Moro no governo. O Vox divulgou na sexta-feira 30 uma pesquisa de opinião que confirma a queda acentuada na popularidade de Bolsonaro: 40% dos brasileiros consideram seu mandato ruim ou péssimo. Como nos demais levantamentos, o governo do ex-capitão obtém os melhores resultados em segurança (26%) e combate à corrupção (33%). Nada excepcional, mas bem melhor do que em outros temas. Rápida comparação: 15% apoiam suas iniciativas ambientais, 14% veem avanços na saúde e 14% acham que a imagem o Brasil no exterior melhorou.
Embora os eleitores não saibam apontar medidas concretas em segurança e combate à corrupção, analisa Coimbra, a simples presença de Moro produz a sensação de que algo mudou nas políticas federais. Entre aqueles que não apoiam o PT ou são claramente avessos à legenda, o ex-juiz permanece como um símbolo de enfrentamento dos crimes de colarinho branco, personagem que teve a coragem de “investigar a todos” sem olhar a coloração partidária (não é o que mostra a Vaza Jato, claro). Essa percepção está na base de um fenômeno em tese desconexo: apesar de a maioria reconhecer os desvios de conduta e as ilegalidades da Lava Jato, defende a permanência do ex-magistrado no governo.
Bolsonaro, ciente da situação, prefere comer pelas beiradas: ora enfraquece o subordinado, ora o afaga. Depois de uma semana de intensas e indiscutíveis críticas ao ministro, o ex-capitão mudou o tom e o encheu de mesuras. Em uma cerimônia, afirmou que Moro é “patrimônio nacional”. E, segundo a crônica política de Brasília, promete vetar 9 dos 10 pontos sugeridos pelo ex-juiz na Lei de Abuso de Autoridade.
A ação direta de Bolsonaro contribuiu para o esvaziamento do papel de “superministro” atribuído a Moro. Muito em função da estratégia do Palácio do Planalto, o curitibano não plana mais sobre as cabeças da Esplanada dos Ministérios, protegido dos desgastes da política. Atualmente, chafurda no mesmo pântano de Bolsonaro e demais colegas. A simbiose entre o presidente e o subordinado tornou-se mais aguda, uma interdependência em que ambos perdem e ganham na mesma intensidade. Irmanados, sofrem o “desgaste natural” do tempo (“desgaste natural” do tempo, assim um conhecido meu justificou a devolução em frangalhos, desprovido de dezenas de páginas, de um livro que eu havia lhe emprestado dois anos antes. Parece-me uma ideia perfeita para o momento).
Em oito meses, a erosão da imagem, o “desgaste natural” do ex-capitão e do ministro é surpreendente, apesar de pior para o primeiro. Daqui a pouco, a opinião pública exigirá mais do que promessas. Pedirá resultados concretos. Resta saber o quanto da credibilidade de Moro restará incólume até lá. E se haverá algum serviço a mostrar.
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